terça-feira, 16 de outubro de 2012

VIDA NOVA

Lua Nova, 15 de Outubro de 2012


O fim-de-semana tinha passado rapidamente. As malas estavam arrumadas e prontas junto à porta de saída, mas ainda não acreditava no que se estava a passar.
Podia estar despachada mais cedo, mas não acreditava em tudo o que se tinha acumulado na minha vida... Nem nunca chegaria a saber o que realmente me faz falta, mas isso não tornava mais fácil a escolha do que deixarei para trás.

Tinha decidido "abandonar o ninho" e ir para um lugar a milhares de quilómetros de casa, mas era um risco que tinha aceite correr e que, não muito surpreendentemente, desejava correr. A sede de aventura, independência e liberdade gritava mais alto do que o que lhe esperava no próprio país.
A reacção dos meus pais não tinha ido muito além das minhas expectativas - sabiam que por cá não teria muita sorte - mas isso não impediu a minha desilusão.
Quando tinha começado a fazer planos do que iria precisar e não, ia revolvendo as minhas coisas... Incrível o que se encontra em 23 anos de memórias! Tantas recordações... Cada objecto me lembrava da altura em que o tinha arranjado e prolongou o que seria arrumar e levar. Não é que necessitasse de muitas dessas coisas e algumas já nem me lembrava que ainda existiam nas profundezas do meu quarto,  no entanto, não as queria deixar para trás. Um desejo infantil, como se as esquecesse, esqueceria os momentos que tinha passado com elas. Acabei por levar apenas as que sentia ter de levar, deixando outras prontas para quando regressasse.
Não me tinha de preocupar com a casa: o apartamento estava pronto a ser habitado. Tinha decidido comprar um apartamento a meias com uma colega, visto que as duas tinha recebido a resposta positiva da mesma empresa, enquanto começavam a vida num sítio completamente novo era o mais adequado ao que as esperava... Menos preocupações.

"Pai? Mãe?" chamei-os para me despedir... Não conseguia associar muito do que se passava à minha volta e mal me conseguia mexer. Acho que estava finalmente a tomar consciência da minha decisão e do que isso acarretava. Era assustador. "Tenho que me ir embora." Por favor digam qualquer coisa. Assegurem-me de que vai tudo correr bem.

A minha mãe foi a primeira a falar. "Bem... Tem que ser, não é?" Claro, como podia esperar outra coisa... Finalmente, voltei ao normal: já não me sentia assustada... De facto, já não sentia alguma coisa.
"Avisa-nos quando levantares voo." era a vez do meu pai se despedir "Liga-nos sempre quando puderes ou precisares alguma coisa, que nós tratamos logo do assunto... Agora vai lá e aproveita."
Fui ter com os dois e dei-lhes um beijo de despedida, para me ir embora... Eu pedi-lhes para não irem ao aeroporto, pois acho que seria pior para mim. Não queria mudar de ideias, mas já não tinha medo que isso acontecesse...
Tinha uma nova vida à espera.