sexta-feira, 18 de setembro de 2009

SONHO

Lua Nova, 18 de Setembro de 2009

Estava a chover. A maioria das pessoas tinha-se refugiado nas suas casas, mas no cemitério encontrava-se um pequeno grupo de pessoas.
Uma rapariga tinha sido brutalmente assassinada e este era o seu funeral.
Todos sabiam deste homicídio e em todos os jornais houve fotografias do corpo da vítima mergulhado numa poça do seu próprio sangue. No entanto, os únicos presentes no funeral foram a família e um rapaz.
Quando ele apareceu, os pais da rapariga ficaram surpresos (a filha nunca tinha tido amigos), mas nada disseram e deixaram-no participar na cerimónia fúnebre.
A sua cara não apresentava qualquer emoção, mas os seus olhos mostravam o turbilhão de emoções que tentava esconder com a sua expressão rígida. Enquanto assistia ao funeral, não ouvia uma única palavra que estivesse a ser dita... Estava demasiado envolto na memória que guardou do dia em que se mudou para a nova escola.

Tinha entrado na sala e a professora indicou-lhe o lugar atrás de uma rapariga que se encontrava concentrada em algo no lado de fora da janela. Ele reparou que os olhos dela estavam desprovidos de qualquer emoção.
Mais tarde, no mesmo dia, falou com ela. Apresentaram-se e conversaram um pouco.
Ela pareceu-lhe um pouco chocada, mas ele conseguiu trazer alguma vida aos seus olhos.
No fim, despediram-se e cada um foi para casa. Ele apercebeu-se que ela não tinha muitos desejos ou sonhos que quisesse concretizar: a sua expressão mostrava isso e mais outra coisa, ao princípio não era muito evidente, mas depois o rapaz percebeu o que era: desinteresse... "Como se julgasse que nenhum sonho fosse possível concretizar e, após ter perdido todas as esperanças, se tivesse apercebido que não valia de nada sonhar."
Nos dois meses seguintes, ele tinha continuado a tentar tornar-se mais próxima dela, apesar de há muito ter reparado que ela não gostava muito de estar com outras pessoas. "Mas isso não me impede de tentar..." E, assim, continuou a manter pequenas conversas com ela.

Isso levou-o ao acontecimento de alguns dias atrás.

Quando tinha entrado na sala ela não estava no seu lugar habitual... Foi então que a professora comunicou à turma que tinha acontecido um acidente terrível... Ela tinha sido assassinada.
"Não... Não é possível... NÃO!"
Após esta notícia, houve um ruído de fundo na sala, devido à natureza da notícia, que rapidamente se silenciou. Isto incomodou-o. Como era possível não dizerem ou sentirem nada por uma colega que tinha acabado de morrer? Nem sequer estavam perturbados com o facto de ter sido assassinada.
Então nessa altura saiu da sala de aula e foi para casa...

Este último pensamento fez com que a sua máscara caísse e que as lágrimas que estava a manter encerradas nos seus olhos, fluíssem livremente. E sentiu raiva. Raiva de si por não ter tentado mais. Raiva por não lhe ter dito o que sentia por ela ou que sonhava que um dia...
"Já não interessa! Agora esse dia nunca mais iria chegar..."
No fim do funeral, foi-se embora com uma única esperança: quando morresse haveria de a encontrar.
Deste modo, continuaria a sonhar com ela.