segunda-feira, 12 de julho de 2010

ESCOLHAS

Lua Nova, 11 de Julho de 2010


A palavra "escolher" vem do latim "excolligere", que significa recolher ou obter. Se pensarmos bem, sempre que temos de fazer uma escolha recolhemos o máximo de informação possível para termos a certeza de que não nos arrependemos das escolhas que fazemos.
Todos os dias temos de fazer escolhas... Parecem algo inevitável. Claro que todas as escolhas são diferentes! Não apenas porque diferem no assunto, mas também porque as consequências que acarretam são diferentes: escolher uma camisola é diferente de escolher uma casa (como é óbvio)...
Somos humanos, porque raciocinamos. A razão diferencia-nos do resto dos animais. Somos livres de pensar e escolher. Isto é o que a lógica nos diz. Na verdade não somos assim tão livres...
Voltando a um dos exemplos anteriores: a escolha da camisola. Vamos a uma loja e queremos comprar uma camisola. Escolhemos as nossas preferidas, experimentamos e compramos a que gostámos mais. Aparentemente, uma escolha da nossa livre vontade. No entanto, apenas escolhemos essa camisola, porque a cor da mesma é a cor que está na moda, porque o seu corte nos assenta melhor do que as outras, porque ainda nenhuma das pessoas que conheço tem, porque já foi escolhida por estilista de um monte de outras camisolas que poderíamos ter sido nós a escolher... Vendo bem, a nossa escolha está muito condicionada!
Mesmo assim, somos nós que temos a liberdade de escolher ou não.
Mas, não são estas as escolhas que nos preocupam muito. As que nos poderão preocupar são as que afectam o resto da nossa vida.
Quando nos deparamos com este tipo de escolha é que sentimos o peso do mundo sobre os nossos ombros.
Temos um vasto leque de hipóteses à nossa frente. Isso só dificulta a escolha! Não temos capacidade de decidir qual é a correcta... Não sabemos como vai ser o futuro. Não sabemos se vamos mudar. Não sabemos se os outros vão mudar.
Neste estado de abulia é tudo tão desconcertante. Podemos pedir ajuda? Claro que sim! Podemos sempre ouvir as opiniões de outras pessoas que podem estar ou não ligadas ao assunto.
É sempre bom saber a opinião dos outros (embora se corra o risco de ser condicionados por elas)... Recolhemos mais informação e temos maior probabilidade de fazer a escolha correcta. O único problema é: quanto mais próximas as pessoas são de nós (i.e.: família; amigos), mais nos importamos com a sua opinião, logo queremos que a nossa escolha também tenha a aprovação deles, como se fosse a sua "escolha". Pedimos uma opinião a alguém próximo e esse alguém assume a nossa posição e escolhe o que mais lhe agrada. Se pedirmos a alguém diferente faz o mesmo: «Se fosse eu...». Aí é que encontramos a raíz do problema... Os outros escolhem o que mais lhes agrada e esquecem-se que lhe pedimos a opinião para nós e para o que mais nos agrada.
Mas o melhor de toda a situação é o final da frase «Se fosse eu...». Esta acaba quase sempre de maneira semelhante a «... mas tu é que sabes!», «... mas a decisão é tua.» ou «... mas isto sou eu.». Resumindo e concluindo, ficamos na mesma quanto ao que queremos, acrescendo o peso de talvez dever escolher o que alguém quer... Mas, como é óbvio, nunca nos querem influenciar. Se acham que há sarcasmo nesta última frase, têm razão: quando perguntamos a opinião de alguém, a maioria das pessoas querem influenciar-nos para seguir a sua escolha, podendo até ficar ressentidos com a nossa escolha se for diferente da deles.
Outra coisa divertida nas escolhas (repara que, mais uma vez, o sarcasmo está presente nesta frase) é o tipo de situações em que sabemos precisamente o que queremos e os outros acham que sabem melhor do que nós o que queremos, ou então quando primeiramente escolhemos uma coisa que todos aprovaram e à medida que o tempo passa mudarmos a nossa opinião sobre essa escolha e fazer outra diferente que já nem todos aprovam, porque acham que devíamos continuar a manter a nossa primeira escolha.
Eu faço as minhas escolhas e não digo a ninguém. Deste modo, ninguém me julga e sei que a escolha foi minha e não apenas a influência de outra pessoa. Sei que há a possibilidade de não ser a melhor escolha... Também tenho dúvidas e não quero perder tempo em algo que não vai dar certo ou que não é o que realmente quero. Por mais tempo que ainda possa ter, não o quero desperdiçar... Mas, se tenho dúvidas, significa que pode não ser o que eu realmente quero.
O que interessa é que temos de fazer as nossas escolhas de acordo com o que nós queremos.
É a nossa vida em jogo, quer seja a escolha certa ou errada.
Temos de aprender com elas.
Isto é que significa ser humano.
Isto é que significa ser livre.